Diretor do Samu Oeste alerta para catástrofe iminente na saúde

Diante do possível colapso do sistema de saúde, Rodrigo prevê um momento difícil, com a perda de muitas vidas

A chegada de uma terceira onda de contaminação por covid-19 já preocupa os especialistas. O atraso na vacinação e o afrouxamento das medidas restritivas são refletidos em números preocupantes e o sistema de saúde apresenta indícios de colapso.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a alertar que o Brasil pode enfrentar nova alta de casos de covid-19, o que levaria à necessidade de medidas duras por parte dos municípios para conter o avanço da doença.

A alta avisada por Queiroga já pode ser observada em Cascavel. De acordo com o diretor técnico do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) Oeste, o médico Rodrigo Nicácio, a demanda desta semana não era vista desde março. “Na terça-feira [25], a gente bateu recorde de atendimentos com as equipes do Samu nos últimos 60 dias. Foi o dia em que a gente mais fez atendimento covid-19. Foram 41 atendimentos ao todo, sendo 23 transferências, uma transferência por hora, em média. Isso não acontecia desde aquela primeira semana de março”, disse, referindo-se à explosão de casos registrada em março e que levou à pior fase da pandemia no Paraná.

Além dos altos números dos atendimentos, Nicácio alerta para uma situação preocupante: a chegada da possível terceira onda e o iminente colapso do sistema de saúde. “A situação é preocupante! O que eu vejo dos indicadores é que a gente ainda está no começo de uma ascendência. Eu vejo duas semanas de curva crescente e já com colapso no sistema. Já são 100 pessoas aguardando leito de UTI [na Macro-Oeste], isso também não acontecia desde março. Quando a gente olha para as curvas do passado, que duram de seis a oito semanas, é de se imaginar que nos próximos dias tenhamos dificuldades ainda maiores.”

O médico aponta outro fator que poderá gerar uma crise ainda maior: a falta de estrutura física e técnica dos hospitais para abrir novos leitos. “Naquela crise de março, ainda foram abertos leitos de UTI em Palotina, Céu Azul, o Hospital Universitário de Cascavel fechou o número máximo de 70 UTIs. A preocupação agora é que o fôlego para abertura de novas estruturas, equipamentos, mão de obras, eu imagino, é zero.”

Diante do possível colapso do sistema de saúde, Rodrigo prevê um momento difícil, com a perda de muitas vidas. “O sistema estava conseguindo absorver em leito hospitalar quem dele precisava. Mas, infelizmente, a gente vira a chave com uma realidade ruim, uma realidade que a gente já viveu. É preciso que as pessoas entendam o momento, os pacientes vão demorar nas UPAs, vão ficar intubados. Infelizmente, pessoas vão morrer nas UPAs ou em hospitais menores aguardando uma vaga [para UTI]. Esse é um filme que vai acontecer de novo.

Para Nicácio, a única forma de aliviar a sobrecarga do sistema de saúde são as medidas restritivas determinadas pelo Poder Público.

“Entendo que as restrições do decreto estadual são necessárias. Assim como aconteceram nas outras ondas, com resultados positivos ao sistema de saúde: ocorrem menos acidentes, traumas em geral, agressões e diminuem a sobrecarga sobre o sistema de urgência, além de reduzir também o consumo de sedativos, analgésicos e leitos de UTI geral. Embora muito criticadas, eu entendo que são necessárias. Lamento profundamente pelo setor econômico com isso, que deixa de faturar, que demite, e isso é um dano incalculável, mas a curva precisa ser achatada. Nas subidas de dezembro e março, esse foi o remédio. É um remédio amargo, mas necessário.”

Em Cascavel, o médico espera que a fiscalização seja mais rígida, pois, para ele, o teste de maturidade não funcionou. Além disso, Nicácio salienta a importância de observar como o avanço da doença se manifesta em municípios que aderem medidas restritivas.

“O prefeito [de Cascavel, Leonaldo Paranhos] optou por apelar pela a maturidade e o bom senso da população, que, por sua vez, não demonstrou isso no m de semana. Tivemos eventos e aglomerações noticiadas na imprensa que são inapropriadas. Para não haver restrição por aqui, e manter tudo aberto, somente com fiscalização extremante presente e rígida, notificando e fechando locais em não conformidade com o momento. Vamos ter que manter a observação por mais alguns dias e comparar com cidades de porte similar que venham a adotar medidas mais restritivas.”

 

Fonte Jornal O Paraná

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